A UseFashion nos proporcionou uma entrevista com o Lula Rodrigues (jornalista, consultor de moda e blogueiro), sobre o mundo da moda masculina.
Acompanhe:
"Quem faz roupas e fala que não segue tendências, está mentindo"
UseFashion - Você afirma que há um perfil ainda não explorado pela maioria das marcas, que é o meio termo entre dândi e o despreocupado. Como conhecer melhor e atingir este homem médio?
Lula Rodrigues - Basta dialogar, não delegar e impor. Os homens não tem o costume de aceitar imposições, mesmo em áreas que não dominam. No entanto, há homens que tem noção aguçada de moda e muitos que querem aprender. Exemplo disto é o grande crescimento de novos milionários no Brasil, que subiram em escala econômica, mas ainda precisam aprender hábitos de consumo de outra classe social. Semear conhecimento entre estes homens é colher clientes conscientes.
UF - Os manuais de moda, publicados por veículos especializados ou não, são cada vez mais comuns e os sapatos ganham grande destaque neles. Isto ocorre porque os homens estão errando muito com os sapatos?
LR - Estudos comprovam que os sapatos estão entre as primeiras coisas que uma mulher repara em um homem. O sapato é um item que possue uma linguagem própria que estabelece padrões sociais. Todos sabemos que, em geral, as mulheres amam calçados, mas os homens gostam bastante também e a história comprova que são responsáveis por importantes aperfeiçoamentos estéticos e funcionais.
UF - Há algum tempo você sustenta que a moda precisa de uma dessazonalização, para que as mesmas peças possam ser usadas em diferentes estações do ano ou períodos do dia. O que falta para este conceito deslanchar?
LR - Com certeza não é tecnologia, hoje temos tecidos muito evoluídos, que mudam de cor, não pesam quase nada, etc. Falta aceitação, pois a dessazonalização exige uma mudança no código de vestimenta de certos ambientes. Um executivo que pedalou de camiseta no verão carioca, chega no escritório gelado e tira um paletó todo amassado da mochila não vai ser bem visto pelos chefes e pelos colegas. Falta ainda uma mudança comportamental, mas acredito que ela não está muito distante, sobretudo no Brasil.
UF - Seu "Almanaque de Moda Masculina - de Luis XIV a Barack Obama", que será lançado ainda este ano pela Editora Senac, compreende um período bem extenso. Há algo que se mantém durante todo este tempo e ainda vai perdurar na moda masculina?
LR - O terno, sem dúvida. Estas 3 peças, que simbolizam muito para o homem atual, surgiu no século 18 e pouco mudou desde então. O terno é tão importante que não só acompanha como também caracteriza presidentes, como o caso de Obama, que resgatou o terno de 2 botões, que em poucas semanas já era sucesso de vendas em multimarcas.
UF - Como blogueiro, qual a principal vantagem do seu blog em relação aos demais veículos de comunicação que você utiliza?
LR - O blog é rápido e congrega diversas mídias. Posso fazer e colocar um vídeo na web em pouco tempo, ele já vai ser divulgado automaticamente em redes sociais como Twitter e Facebook, e minha mensagem vai atingir milhares de pessoas ao redor do mundo. Esta velocidade é muito interessante, mas mesmo assim não largo o papel, guardo jornais e livros por acreditar que ainda são muito úteis em uma pesquisa aprofundada.
UF - A moda masculina está mais original ou ainda é muito dependente de tendências internacionais?
Não só na moda masculina, quem produz roupas e fala que não segue tendências, está mentindo. Você pode fazer uma coleção livre de influências de estilo difundidas pelo mundo todo, mas se não segue determinados padrões de consumo, não vai obter sucesso. Também falo isso porque as peças são materiais transformados, e é muito provável que estes tecidos e linhas sejam frutos de tendências.
UF - Muito se fala da apropriação feminina do guarda-roupa masculino, mas o que os homens precisam aprender ou recuperar das mulheres?
LR - Mesmo com o boyfriend em voga agora, a maioria das roupas delas são apropriações e adaptações antigas do vestuário deles. O que mudou bastante é que o homem queria apenas praticidade e agora quer se expressar através das roupas de forma mais intensa. O desafio é encontrar meios para que esta expressão ocorra sem que a praticidade acabe prejudicada.
UF - Têm algumas dicas para quem trabalha com moda feminina e quer aderir ao gênero masculino?
LR - Para as novas, é preciso construir um degrau sólido de cada vez. É preciso uma identidade forte no gênero inicial para então planejar lançamentos masculinos que sigam o DNA da marca. No entanto, não devem ser versões masculinizadas da estética criada para as roupas das mulheres. A Reserva, por exemplo, faz moda masculina e nem pensa em criar para elas. Além disso, é importante que alguém da criação seja do mesmo gênero que o público-alvo, fica mais fácil de evitar erros óbvios.
UF - Próximos projetos?
LR - Além do meu livro, a Ueba.tv, um espaço em que eu vou aproveitar toda essa instantaneidade da web para acompanhar as diversas facetas da moda através de vídeos.
*Entrevista feita no dia 05/08/10.
Fonte: Portal UseFashion
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