segunda-feira, setembro 20, 2010

Jornalismo é coisa séria! Renata Piza mostra que escrever sobre moda não é tão simples quanto parece

imagesRenata Piza é editora de texto de moda da revista ELLE

Desde o boom dos blogs (e do twitter), o jornalismo anda numa espécie de berlinda. Como a internet deu “voz” a todo mundo, escrever sobre moda, de repente, virou a coisa mais fácil do universo. Tipo gosto ou não gosto. Tipo qualquer um faz.

A discussão não se restringe à moda, é claro. Mas, como a moda é um terreno em que muita gente acredita que é fácil pisar, a coisa tem ainda mais importância. Pessoalmente, leio textos interessantes em vários blogs. Mas muita besteira também. E você pode até me dizer que em revistas, jornais e TV também há espaço para bobagem. Mas, nesse caso, fecho com Gay Talese: um prédio jornalístico ainda é o prédio com a maior quantidade de verdades por metro quadrado. E com menor índice de furto, acrescentaria. Afinal, todos sabemos que a maioria dos blogs rouba material alheio, especialmente fotos.

Escrever sobre moda exige mais do que bom gosto e bons relacionamentos. Lembro da minha querida coordenadora de pós-graduação, Cris Mesquita, contando que quando barrava alguma candidata ao curso, a mesma logo retrucava: “mas eu me visto tão bem!” Pois é, exige mais do que looks bem pensados ou cartões com crédito ilimitado.

Exige percepção aguda, conhecimento técnico, domínio da história da moda e da arte, e do português, bem antes do inglês, que fique claro. Exige ainda a capacidade de escrever sobre paradoxos – sim, a indústria da moda movimenta bilhões, o jeito certo de usar uma roupa ajuda muita gente a se sentir melhor (recebi recentemente um email fofo em agradecimento ao modos de usar), a moda é reflexo do tempo e da cultura. Mas, convenhamos, escrever sobre a modelagem X ou Y não salva a vida de ninguém. Não muda os rumos da nação. Como me disse o stylist Maurício Ianês, certa vez, um top é só um top. Não precisamos fazer tanto drama.

Fazer crítica de moda exige mais. O primeiro e, para alguns, mais difícil passo é esquecer o gosto pessoal. Se eu não gosto de bege, o que é que os outros têm a ver com isso? Morenas ficam incríveis de bege. Vamos parar com “Narciso acha feio o que não é espelho”. O estilo também vai para o modo stand by nessa hora. Sou contra o clichê I´m so sexy, mas se uma marca vive de fazer isso e tem público para isso, não cabe a mim dizer que ela é cafona. Ser coerente é uma das principais coisas que um bom estilista tem que ter em mente.

Tudo isso para dizer que é preciso tomar cuidado e respeitar o trabalho alheio, antes de fazer bravatas por aí. Ou achar que qualquer um cria um título, por exemplo. É muito fácil atacar, sem argumentar. Mas isso vale o quê? Algumas risadinhas num círculo bem restrito, talvez.

Por último, mas não menos importante, escrever não requer curso superior, mas requer informação, sempre. E estilo, algo que pode parecer sutil, mas que não se ensina, não se copia. Você pode aprimorá-lo com o tempo. Mas ele nasce (ou não) com você.

Fonte: Revista Elle

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